Alessandra Baldini como miss DF em 2011 e em foto feita três anos depois, quando tomou posse como juíza do Tribunal Regional Federal (Foto: Cassiano Grandi/Divulgação e Tribunal Regional Federal/Divulgação)
Do G1 DF, Por Raquel Morais
Segunda-feira, 09 de março de 2015 (20:23:12)
Quem vê a brasiliense Alessandra Baldini atuando como juíza federal aos
28 anos não consegue imaginar a trajetória da magistrada: bacharel em direito,
ela tem pós-graduação pelo Ministério Público e foi aprovada em seis concursos
nos últimos três anos. As conquistas profissionais dela não se restringem,
entretanto, ao mundo acadêmico. A jovem ostenta o título de Miss DF 2011 e,
durante um ano e meio, seguiu carreira internacional de modelo na Ásia.
“Ainda há preconceito de que
uma modelo não é inteligente, mas eu sempre fui boa aluna. As pessoas ficam
surpresas ao saber que uma modelo-miss passou em vários concursos e hoje é
juíza federal. Na verdade isso deixa a vitória ainda mais gratificante."
Alessandra Baldini,
juíza do Tribunal Regional Federal
juíza do Tribunal Regional Federal
A paixão pelas passarelas começou na adolescência e continuou no período
da faculdade. Ela entrou para o curso aos 17 anos e, aos 18, decidiu trancá-lo
para desfilar na China, Tailândia e Filipinas. "Busquei conciliar as duas
carreiras, mas sempre priorizando os estudos. Embora tenha interrompido os
estudos para 'modelar' na Ásia, sabia que era temporário. Serviu de experiência
de vida para amadurecer como pessoa", conta.
De volta ao Brasil e depois de se formar, Alessandra decidiu então fazer
uma pós-graduação e começar a se preparar para concursos públicos. Ela afirma
que já quase não fazia mais campanhas, mas acabou aceitando o convite da
organização do Miss DF Universo para se inscrever no concurso de 2011. A jovem
decidiu interromper os estudos temporariamente mais uma vez e se candidatou ao
posto. Com 24 anos, foi eleita Miss Cruzeiro e
então Miss DF 2011.
"Percebi que seria uma honra ter a oportunidade de representar o
Distrito Federal em um concurso de nível nacional. Além disso, a interrupção
temporária da pós-graduação não geraria prejuízos à minha formação",
explica. "O Miss Brasil 2011 foi realizado em São Paulo. Foram 27
participantes. Eu e mais 26 meninas ficamos duas semanas na capital paulista
por conta do evento. Participávamos de eventos culturais e turísticos, bem como
ensaiávamos para o grande dia. Fiquei nas semifinais."
Alessandra continuou com a rotina de miss, acordando às 6h30 e fazendo
musculação, tratamentos estéticos e dermatológicos, aulas de etiqueta, teatro e
maquiagem e frequentando eventos sociais até passar a coroa em 2012. Depois,
mudou radicalmente a rotina. Ela passou a estudar nove horas por dia, inclusive
aos fins de semana, para se dedicar às provas.
A jovem conta que no início não trabalhava. "Advogava pouco, tinha
uma parceria com um escritório em que eu fazia algumas peças, mais pela prática
mesmo. Os estudos eram diários, atividade física moderada e lazer mínimo. Fiz
vários cursos, desde os mais genéricos até os mais específicos, e fazia várias
provas de concursos diversos, bem como realizava exercícios e simulados em
casa. Tive o apoio dos meus pais, até que eu fui aprovada e chamada no primeiro
concurso e comecei a ter minha própria renda. Aí comecei a conciliar trabalho e
estudo."
saiba mais
Além da experiência na advocacia, Alessandra atuou como especialista em
regulação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e analista do Supremo
Tribunal Federal. Ela também foi aprovada como analista do Superior Tribunal de
Justiça, defensora pública e procuradora do Banco Central. No dia 29 de
janeiro, vencendo uma concorrência de 90 candidatos por vaga, tomou posse como
juíza do Tribunal Regional Federal.
Para alcançar o cargo, Alessandra passou por várias etapas: prova
objetiva, provas escritas, investigação da vida pregressa, exame de sanidade
física e mental, teste psicotécnico, prova oral e avaliação de títulos
acadêmicos. O certame aprovou 56 dos 5.209 inscritos – pouco mais de 1% dos
candidatos.
Mundos diferentes
"É uma quebra de paradigma. É a transição de dois mundos completamente diferentes. Em 2012 eu ainda estava cumprindo as tarefas de miss e, em menos de três anos, estou no curso de formação de juiz federal. Embora o perfil das misses tenha se alterado, contando com meninas universitárias, ainda há o preconceito de que a miss apenas lê 'O Pequeno Príncipe'. [...] Tomar posse como juíza federal substituta do TRF é um símbolo de vitória", diz a jovem.
A juíza federal Alessandra Baldini na época em que ostentava a coroa de Miss DF (Foto: Cassiano Grandi/Divulgação)
A magistrada
conta que mesmo durante a graduação a capacidade dela era posta em dúvida.
"Na época da faculdade houve preconceito. A maioria das pessoas não
acreditava que eu pudesse ser uma boa aluna, já que era modelo. Ainda há
preconceito de que modelo não é inteligente, mas eu sempre fui boa aluna. As
pessoas ficam surpresas ao saber que uma modelo-miss passou em vários concursos
e hoje é juíza federal. Na verdade isso deixa a vitória ainda mais
gratificante. A quebra de paradigma funcionou como um plus na vitória."
A juíza afirma que a experiência com o mundo das
misses poderá contribuir com eventuais problemas na nova etapa de vida.
"Aprendi a lidar com situações adversas – concorrência, fracasso etc –
desde nova, em razão da competitividade do meio da moda. Independentemente da
idade da modelo, os problemas advindos da carreira são de 'gente grande'. [...]
E, sim, a carreira de modelo e o miss me ensinaram a cuidar de mim mesma. Além
de reforçar a vaidade, também me ajudou a ser mais disciplinada e determinada.
Mantive dieta e academia, mesmo durante os estudos."
Futuro
Alessandra afirma que não pretende fazer mais concursos públicos agora. O desejo de se tornar juíza veio do contato com magistrados na faculdade, na pós-graduação e no trabalho. A ideia de ir além da aplicação da "letra fria da lei" encantou a jovem.
"É um
sonho realizado. Não preciso fazer mais concurso nenhum, pois esse era
exatamente o que eu queria: chegar ao TRF e ser magistrada federal. Agora é
iniciar a carreira com dedicação total", diz a magistrada.
Segundo ela, o
trabalho pode ser exercido em qualquer lugar do país. "O ingresso na
magistratura federal implica a responsabilidade de concretizar o princípio
fundamental do acesso amplo à Justiça. Há a possibilidade de ser lotada em
locais mais distantes. Se isso ocorrer, será uma honra poder fazer parte desse
processo de interiorização da Justiça Federal, bem como me dará a oportunidade
de conhecer a realidade e a diversidade existentes em um país tão extenso e
culturalmente rico como o Brasil. Essa nova fase demandará não apenas o
conhecimento jurídico adquirido ao longo dos anos, mas também maturidade e
sensibilidade para lidar com conflitos concretos", diz.
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