Foto: Arquivo Pessoal
Do
UOL, em Bauru, Por Wagner Carvalho
Segunda-feira,
17 de novembro de 2014 (10:00:01)
A
Diocese do Divino Espirito Santo de Bauru (338km de São Paulo) emitiu, na manhã
deste sábado (15). um comunicado informando que, após um processo que durou
mais de um ano, a Santa Sé declarou oficialmente que o padre Roberto Francisco
Daniel, conhecido como padre Beto, está oficialmente excomungado pela Igreja
Católica.
A
Diocese de Bauru havia recebido o comunicado no dia 14 de outubro.
De
acordo com o documento divulgado, para a decisão não cabe recurso. A excomunhão
só será revista caso padre Beto peça perdão pelos atos que culminaram com a
pena. Ainda no comunicado, a instituição pede que os fiéis não frequentem e nem
participem de possíveis "atos de cultos" realizados por ele.
"Todos
os matrimônios celebrados (assistidos), após a declaração da pena, pelo mesmo
sacerdote, são inválidos pelo próprio Direito", informa.
Assinado
pelo padre doutor Tiago Wenceslau, juiz-instrutor para as "matérias
reservadas a Sé Apostólica", o documento pede ainda que as pessoas rezem
por padre Beto.
"Convido
todos os cristãos católicos a rezarem para que o Espírito Santo ilumine a todos,
sobretudo, ao referido sacerdote para que tenha a coragem da humildade sabendo
pedir perdão e se reconciliando com a Igreja que o acolheu e lhe concedeu o
sacerdócio ministerial", diz o aviso oficial.
Mesmo
sendo parte interessada no processo, padre Beto informou que não teve
conhecimento prévio da decisão da Santa Sé antes da divulgação para a imprensa.
Ele foi informado da decisão pela reportagem do UOL após
realizar mais um casamento, na manhã deste sábado em Bauru.
"Este
fato é indiferente para mim, já não tinha mais a intenção de voltar para a
Igreja, fosse por Roma ou pela Diocese", afirmou ele.
Padre
Beto afirmou que continua a ter a sua fé, mas que agora ela não está ligada a
nenhuma denominação. Atualmente padre Beto dá aulas em uma faculdade de Bauru e
tem viajado por todo o País para ministrar palestras e para divulgar um livro
lançado recentemente.
Apesar
da decisão da Santa Sé, o sacerdote afirma que o processo movido por ele na
Justiça brasileira segue em andamento. Ele argumenta que não teve direito à
defesa antes da excomunhão e que o juiz instrutor nomeado pela Diocese de Bauru
não tinha competência para julgar.
"A
decisão da Santa Sé diz respeito ao ato, mas o processo trata do desrespeito da
Diocese à Constituição brasileira que não observou o tratado entre o Vaticano e
as leis do Brasil", afirma.
Apesar
de não servir mais à Igreja Católica, ele afirma que, por ser conhecido como
padre Beto, não pretende abandonar o título. "Tem vários padres que deixam
de exercer a função por esse ou aquele motivo, mas não deixam de o usar o
'padre'. Nada me impede de continuar assim", explica.
Entenda o caso
O
padre Roberto Francisco Daniel, conhecido como padre Beto, se envolveu numa
polêmica com a Igreja Católica após declarações registradas num vídeo publicado
no Youtube chegarem ao conhecimento da Diocese de Bauru.
Na
gravação, o religioso questiona dogmas da Igreja Católica e fala com aceitação
sobre assuntos como bissexualidade e homossexualidade, além de segunda união
entre os casais.
Com
a repercussão, o bispo Dom Caetano Ferrari, da Diocese de Bauru, exigiu que
padre Beto se retratasse, mas ele preferiu pedir seu desligamento da Igreja que
mesmo com o pedido feito pelo padre decidiu por excomungá-lo.
Excomungado, mas casamenteiro
Apesar
de estar proibido de realizar sacramentos pela Igreja Católica (batizado,
comunhão, crisma e casamento) padre Beto, conta ter celebrações agendadas até
2016 e que novas datas surgem a todo o momento.
"Os
casais que me procuram para celebrar o casamento, não são ligados a esta ou
aquela religião ou instituição religiosa. São pessoas que tem a sua fé, gostam
do jeito como falo em nome de Deus e só querem receber a benção na união",
ressalta.
Somente
neste sábado (15), padre Beto realizou dois casamentos. Um no final da manhã e
outro no final da tarde, ambos em Bauru. "Você não precisa ser padre ou
pastor para abençoar a união de um casal, assim como um casamento não precisa
ser realizado numa igreja, apenas é necessário que você fale em nome de Deus e
que os noivos estejam de acordo", afirma.
Em
sua página pessoal no Facebook, padre Beto anuncia que está disponível para
realizar os casamentos.
"Realizo
casamentos não só em Bauru, mas na região, na Capital e em outros estados.
Tenho agendado o casamento de um casal heterossexual no Espírito Santo. Esta
semana um homem divorciado me procurou o para realizar o casamento com sua nova
companheira", revela.
Ao
contrário da Igreja Católica que cobra a taxa de matrimônio dos casais pela
realização do sacramento, padre Beto afirma que não cobra. "Apenas quando
é preciso sair de Bauru é que o casal se responsabiliza pelos gastos
necessários para o meu deslocamento", diz.
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